pessoa_reis
Joana. Não, não é cansaço...

Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que me estranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento
Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta -
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...

Como quê?
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)

Porque oiço, veja
Confesso: é cansaço!...
000914
...
Joana. «NÃO, NÃO É CANSAÇO...»

Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que me estranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento
Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta -
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...

Como quê?
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)

Porque oiço, veja
Confesso: é cansaço!...
000914
...
Joana. Hmmm... I reckon one huge text like this in a complete foreign language is quite enough for you all. Damn this stupid 'blather' key... always alluring me to click it twice (unavoidable little thing it is, yes). Ok. Time for translations now. Back in a second. 000914
...
I am SO bored No, it's not tiredness...
It's a quantity of disillusion
Which penetrates me in the kind of thinking,
It's a turned-over sunday
Of the feeling
One holiday passed in the abyss

No, tiredness it is not
It's I being existing,
And also the world,
With all that it contains,
Like everything that in it unfolds
And in the end it’s only the same thing varied in equal copies.

No. Why tiredness?
It's an abstract sensation
Of the concrete life-
Something like a scream
To be given,
Something like an angst
To be suffered,
Or to be suffered completely,
Or to be suffered as
Yes, or to suffer as
That’s it, as

As what?
If I knew, this false tiredness wouldn’t be in me.

[Oh, blind men who sing on the streets,
What formidable barrel-organ
That one’s guitar, and the other viola, and her voice!]

For I listen, see
I confess: it’s tiredness!..

{Ricardo Reis - a.k.a. Fernando Pessoa}
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what's it to you?
who go
blather
from